Se na televisão contemporânea fazem falta mais séries de ficção científica, que dizer de séries sobre ficção científica? Não deixa de ser curioso notar como um género tão popular e capaz de gerar fenómenos de culto tão persistentes acaba por ter uma produção documental bastante discreta. Na memória recente, houve a (excelente) mini-série de oito episódios Prophets of Science Fiction, produzida por Ridley Scott para o Discovery Channel*, e pouco mais. Mas há uma novidade neste campo: a BBC América anunciou ontem a estreia de uma mini-série intitulada The Real History of Science Fiction, com quatro episódios dedicados a quatro temas nucleares do género nos seus vários formatos: Robots, Space, Invasion e Time.
The Real History of Science Fiction terá Mark Gatiss (o Mycroft de Sherlock) como narrador, e pelos seus quatro episódios passará um rol de convidados tão diversificado como notável: escritores como Neil Gaiman, Kim Stanley Robinson, Ursula K. Le Guin e Brian Aldiss; realizadores como John Carpenter, John Landis e Ryan Johnson; produtores e argumentistas como Chris Carter, Ronald D. Moore e Steven Moffat; e actores que se tornaram ícones no género pelas suas personagens, como Keir Dullea, William Shatner, Nathan Fillion, Zoe Saldana, Richard Dreyfuss, David Tennant, Anthony Daniels, Christopher Lloyd, Rutger Hauer e Edward James Olmos, entre muitos outros. Olhando de relance para a lista de convidados, será talvez impossível não reparar como a ficção científica audiovisual parece ser predominante; no entanto, a presença de Gaiman e sobretudo Robinson, Le Guin e Aldiss deixam alguma esperança de que a literatura também venha a estar em destaque, e que seja mais do que uma mera nota de rodapé.
Fonte: Tor.com / BBC America
*Tenho a série completa de Prophets of Science Fiction gravada na box há dois anos - passou no Discovery - para escrever alguns artigos no blogue. Estará para breve.
4 comentários:
Entrevistar realizadores, ainda vá - se bem que deviam incluir os coitados dos argumentistas... mas o Dreyfuss, a Saldana, o Lloyd?... e comparativamente mais do que os autores?... é menos "real history" e mais "royal history" no sentido do "royal with cheese"...
Já agora, as moças começaram a queixar-se de que há gajos a mais, e que o papel das mulheres não vai ser suficientemente destacado...
Não vejo problema em incluir no documentário actores que se celebrizaram por papéis em clássicos da ficção científica - o seu contributo foi também relevante, e dada a especificidade do meio acabam por ser o rosto visível do filme ou da série. Exemplo: toda a gente identifica o William Shattner ou o Patrick Stewart numa fotografia ou num vídeo no Youtube; mas quem, fora dos trekkies mais hardcore, identifica o Gene Roddenberry?
Mesmo a série "Prophets of Science Fiction" do Scott acabou por pegar em imensas referências audiovisuais - e dos oito episódios temáticos, apenas um foi dedicado a um realizador (George Lucas); todos os outros incidiram sobre o legado de escritores (Shelley, Verne, Wells, Asimov, Clarke, Heinlein, Dick). Convém talvez lembrarmo-nos de que estamos a falar de televisão...
O problema está no título, que é enganador. Se fosse algo do género "Playing roles in SF cinema", nada a questionar. Mas mesmo um "real history" que quisesse limitar-se ao audiovisual faria melhor em incidir sobre realizadores e produtores, pois a maior parte das vezes os actores não têm nada a dizer sobre as decisões (fundamentais) criativas além das conversas e decisões tidas no "set". E posso estar muito enganado, mas a Saldana e o Dreyfuss em particular não me inspiram confiança em termos de conhecimentos profundos...
A Zoe Saldana já vai para o quarto papel de destaque em blockbusters de ficção científica ("Avatar", "Star Trek", "Star Trek Into Darkness", e "Guardians of the Galaxy"). Julgo que o ponto será esse. O Dreyfuss participou no "Close Encounters", salvo erro. Serão os melhores actores para falar do género? Apostaria mais no Kurt Russell, com franqueza :) Mas, lá está, não creio que sejam convidados para discursar longamente sobre FC, mas sim para servir de ponte entre o tema do documentário e o público, que reconhece de imediato o rosto. NO fundo, a estratégia não será talvez tão diferente quanto isso de vermos o National Geographic Channel e o Discovery Channel a contratarem o Morgan Freeman e o Jeremy Irons para narrar documentários sobre astronomia ou vida selvagem. E olha que há poucas coisas tão cativantes na televisão contemporânea como ouvir o Irons a falar dos hábitos predatórios dos ursos polares....
Quanto ao titulo, a coisa resume-se a uma palavra: Marketing. Junta-lhe americanos e tens a resposta.
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