O título sintetiza a notícia na perfeição: Alfonso Cuarón venceu o Óscar para "Melhor Realizador" com o aclamadíssimo e extraordinário Gravity - o que, não sendo de todo inesperado*, nem por isso deixa de constituir uma pequena surpresa, e um grande triunfo para a ficção científica cinematográfica. Se poucos foram os filmes do género distinguidos com uma nomeação na principal categoria, menos ainda foram os realizadores a ser reconhecidos com tal honra (lista rápida, e por isso falível: Steven Spielberg e Stanley Kubrick conseguiram-no duas vezes, com Close Encounters of the Third Kind e E.T. the Extraterrestial para o primeiro, e 2001: A Space Odyssey e A Clockwork Orange para o segundo; George Lucas e James Cameron foram nomeados uma vez cada, com Star Wars e Avatar respectivamente). A conquista, por Steven Price, da estatueta dourada na muito disputada categoria de "Melhor Banda Sonora Original" (também com Gravity) poderá ter sido inesperada para alguns críticos e espectadores; já o domínio avassalador do filme de Cuarón nas categorias técnicas dificilmente terá apanhado alguém de surpresa, dado o historial do género nestes prémios.
No total, Gravity arrecadou sete Óscares da Academia, um deles numa das categorias mais importantes. Se a isto juntarmos o Óscar que Spike Jonze venceu na categoria de "Melhor Argumento Original" com Her - outra novidade para o género -, a conclusão torna-se óbvia: 2014 foi o ano em que, em termos das principais distinções da indústria, a ficção científica cinematográfica começou em definitivo a sair do gueto das categorias técnicas para marcar presença em territórios habitualmente dominados pelo mainstream.
Claro que o copo também pode ser visto meio vazio: ainda não foi em 2014 que a Academia atribuiu a um filme de ficção científica o Óscar para "Melhor Filme", ou mesmo um prémio numa das categorias de representação (falamos sempre da categoria principal, esquecendo os actores - quando, para estes, a tarefa ainda é mais difícil. Afinal, quantos actores foram nomeados pelas suas interpretações em filmes de ficção científica? De cabeça, quatro: Sigourney Weaver em Aliens, Brad Pitt em 12 Monkeys, Kate Winslet em Eternal Sunshine of the Spotless Mind e Sandra Bullock em Gravity. É pouco. Muito pouco). O que não deixa de ser sintomático, e de estar de certa forma em sintonia com o velho estigma do primado das ideias em detrimento das personagens, aplicado também (sobretudo) à ficção científica literária.
Deixemos, porém, o pessimismo para outro dia; hoje, Alfonso Cuarón e Spike Jonze estão de parabéns pelos prémios conquistados com Gravity e Her. E, com eles, está também de parabéns a ficção científica cinematográfica.
* Com Gravity, Cuarón já tinha conquistado na mesma categoria o Globo de Ouro, o BAFTA e o Critics Choice Award.
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