Jen Bosier, uma das colaboradoras do (excelente) blogue da revista Forbes dedicado aos videjogos, publicou há dias uma reflexão muito interessante sobre a possibilidade - ou mesmo a necessidade - de a série Resident Evil seguir uma das mais recentes tendências dos meios audiovisuais: o reboot. Escreve Bosier:
With the shining exception of Resident Evil 4, the franchise has slowly but surely been losing its way since Resident Evil: Nemesis or Resident Evil: Code: Veronica, depending on your feelings on the latter, story-driven affair. With Resident Evil 6 firmly behind us, it’s only a matter of time before Resident Evil 7 is teased, which makes me wonder: Is it time for a reboot?
Resident Evil 3: Nemesis continua a ser um dos meus jogos preferidos (tal como Bosier refere noutro artigo muito interessante, algumas mecânicas novas, as criação de munições e Nemesis fizeram do jogo uma experiência a todos os níveis inesquecível); ver a franchise regressar à qualidade dos primeiros três títulos seria sem dúvida uma excelente notícia. Na altura, a narrativa ainda estava razoavelmente contida entre o incidente na mansão das Arklay Mountains e a fuga dos protagonistas de Resident Evil 2 (Leon Kennedy, Claire Redfield e Sherry Birkin) e de Resident Evil 3: Nemesis (Jill Valentine e Carlos Oliveira) de uma Raccoon City infestada momentos antes da sua destruição. Resident Evil Code: Veronica X , com um pendor muito narrativo, ainda se manteve bastante fiel às origens da série - mas também foi aqui que a série conheceu o primeiro momento de jumping the shark, com a introdução de um irritante "Super-Wesker" (na prática, um misto de Wesker com o Agent Smith de The Matrix, bullet time incluído).
Apesar de ter Leon como protagonista (e de Ada aparecer), Resident Evil 4 afastou-se tanto da fórmula original que praticamente se tornou num jogo diferente. Não desfazendo: RE4 é um óptimo jogo, difícil q.b., repleto de detalhes interessantes e com alguns dos inimigos mais memoráveis e assustadores da franchise, como os "Regenerators". Mas apesar da sua atmosfera opressiva e da sua banda sonora lúgubre, RE4 é mais um título de acção do que de survival horror, uma tendência que se acentuou nos jogos subsequentes. Mas não foi o horror o único elemento a deteriorar-se; também a narrativa (o aspecto mais fraco de RE4) perdeu qualidade, tornando-se, nas palavras de Bosier, numa "unholy mess" - porventura mais próxima da salganhada insípida dos filmes de Paul W. S. Anderson do que da trilogia de sucesso da Playstation original.
Para todos os efeitos, RE4 foi um reboot à série Resident Evil, utilizando uma das suas personagens mais populares para transportar a narrativa num novo rumo e para fazer os seus controlos libertarem-se em definitivo do modelo "tank" que caracterizou os primeiros títulos, actualizando-os para os sistemas dos jogos de acção contemporâneos. E a verdade é que, apesar de RE4 ser um excelente título, a direcção que deu à franchise falhou - a narrativa perdeu-se e os jogos que se seguiram perderam as suas características de survival horror para se tornarem em jogos de acção mais ou menos genéricos. Basta ler o que se escreveu, em críticas especializadas e fóruns de discussão frequentados por jogadores, sobre RE5 e RE6. Regressar atrás para recomeçar a série do zero (ou, pun intended, do um) implicaria mais do que decidir como reorganizar toda a narrativa e todas as personagens dos últimos dezassete anos, uma tarefa decerto hercúlea - implicaria, também, decidir entre devolver a série às suas origens de survival horror ou reconstruí-la em modo de acção.
Dado o passado recente da Capcom, não é difícil imaginar qual seria a opção seguida. E, para isso, talvez seja preferível deixar tudo como está.
Fontes: Forbes / Videogame Writers
4 comentários:
E foi por essas razões que a Capcom suspendeu o outsourcing para retomar a produção in-house.
Em equipa vencedora não se mexe, portanto, enquanto aqueles jogos de acção vendessem, iriam fazer mais e mais.
No entanto concordo, podia-se fazer u reboot à saga. Algo completamente diferente do que temos hoje em dia.
Mas algo completamente diferente do que temos hoje... para regressar ao que era? Não sei se pegaria.
E, de resto, a "equipa vencedora" já desapareceu. Muito a propósito, o Shinji Mikami está a preparar um novo título de survival horror para este ano. Se conseguir fazer algo tão atmosférico como RE3: Nemesis....
Já vi o trailer live action e alguns detalhes do Evil Within, não me aqueceu. Espreita o Shadows of the Damned, também dele, do Suda51 e do AKira Yamaoka - mau.
Salva-se a banda sonora.
Nisso ele sempre foi pródigo (ver RE3: Nemesis e RE:4). Aliás, em ambos os jogos, a banda sonora é uma parte fundamental da construção do horror.
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