The Little Movement é um conto de Philip K. Dick publicado originalmente na Magazine of Fantasy & Science Fiction em 1952 e desde então reeditado em várias antologias. Hoje, hoje pode ser encontrado na colectânea Beyond Lies the Wub, primeiro dos cinco volumes que compõem a obra The Collected Stories of Philip K. Dick. É um conto pequeno mas muito interessante, que tem como protagonista um soldado brinquedo de corda que tem vida própria, e que faz parte de um grupo de brinquedos com uma agenda um tanto ou quanto sombria - e, para a levar a cabo, necessita da ajuda (ou da obediência) não dos adultos, mas das crianças. Com um twist final muito curioso - traço comum a outros contos de Philip K. Dick -, The Little Movement é uma fantasia que, julgo, será muito apelativa a quem sempre viu os brinquedos da sua infância como algo mais do que os meros objectos inanimados que aparentavam ser. Dos ainda poucos contos que li do autor, não estará entre os melhores, mas foi sem dúvida um dos que mais me divertiu e tocou.
The Defenders é um conto de 1953 que, tal como The Little Movement, encontra-se hoje publicado no volume Beyond Lies the Wub. Philip K. Dick imagina um futuro alternativo no qual a Guerra Fria acabou por originar um conflito nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética, obrigando as populações de ambas as super-potências a viver em vastas cidades subterrâneas, abrigadas da radiação, a manter uma economia de guerra que sustenta hostilidades continuadas à superfície. Mas aqui, a guerra é travada não através de seres humanos, mas de robots, autênticos soldados artificiais capazes de aguentar níveis de radiação mortíferos para os seres humanos. É uma história muito interessante sobre a natureza e a futilidade da guerra, com um ritmo excepcional a convergir na expectável mas algo inesperada reviravolta final. The Defenders conheceu uma adaptação radiofónica no programa de rádio "X Minus One", de George Lefferts, e a sua premissa serviu de base ao livro The Penultimate Truth, de 1964. O conto pode ser lido na totalidade no Project Gutenberg, e foi publicada uma tradução, da autoria de Mário Matos, no décimo número da revista Bang! (Junho de 2011).
Faith of Our Fathers é um fascinante conto - ou, para ser preciso, uma noveleta - escrito por Philip K. Dick a "pedido" de Harlan Ellison para a antologia Dangerous Visions, de 1967 - e nomeado para o Prémio Hugo para "Best Novelette" no ano seguinte (perdeu-o para outro conto da mesma antologia, Gonna Roll the Bones, de Fritz Leiber). Em Faith of Our Fathers, Philip K. Dick volta a explorar uma premissa de História alternativa idêntica àquela que celebrizou em 1962 com The Man in the High Castle, mas aqui com um twist diferente, quase orwelliano na sua natureza, com um um Comunismo do tipo chinês a dominar o mundo e com um "Grande Líder" tornado omnisciente através do progresso tecnológico. A história decorre no Vietname, e tem como protagonista Tung Chien, um burocrata que tem, em simultâneo, a oportunidade de subir quase vertiginosamente dentro da estrutura política e de colaborar com um movimento que aparenta ser dissidente. O consumo de uma droga invulgar, porém, leva-o a descobrir algo que vai alterar de forma radical e permanente a sua percepção do mundo que o rodeia. Aqui, Philip K. Dick esmerou-se, e ao invés de presentear o leitor com a já clássica punchline final, gere uma série de reviravoltas inesperadas e bem construídas para um final tão poderoso como anticlimático. Concebido, a pedido do próprio Ellison, sob o efeito de LSD (isto a fazer fé tanto na introdução de Ellison como no posfácio de Dick), Faith of Our Fathers é um conto importante na obra de Philip K. Dick, um dos primeiros textos onde se centra no fenómeno religioso que viria a dominar a sua obra tardia. Mas - o que para mim foi mais relevante - também notei no conto algo que me levou de forma subtil para A Scanner Darkly, uma das mais aclamadas obras do autor. Facto é que Faith of Our Fathers se revelou num dos melhores contos de uma antologia repleta de excelente ficção.
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