Com o devido aviso de spoilers.
Para quem acompanha a The Walking Dead na televisão portuguesa, chegou ontem ao fim a primeira parte da terceira temporada com o oitavo episódio, "Made to Suffer" (nos Estados Unidos, este episódio foi transmitido no Domingo passado). Para concluir a temporada, faltam ainda oito episódios, que serão transmitidos a partir de Fevereiro, apesar de ainda não estar definida - que eu saiba - a data de regresso.
Como aqui escrevi há alguns meses, a minha apreciação global da segunda temporada foi muito positiva, e o ritmo narrativo mais lento que tanto desagradou a tanta gente nunca perturbou o meu entusiasmo para com cada episódio. Isto, note-se, não significa que eu considere a temporada perfeita, ou isenta de críticas - havia muito espaço para melhorar, mas a série já era bastante forte, como os últimos episódios tão bem mostraram.
Estes primeiros episódios da terceira temporada vieram confirmar que a série continua no bom caminho. Os episódios "parados" são coisa do passado - até ao momento, o ritmo desta terceira temporada está a ser muito elevado, com o grupo de Rick a deparar-se com inúmeras dificuldades na prisão e com Andrea e Michonne a encontrarem-se na sinistra Woodbury, Merle e o Governador. Julgo, porém, que esta primeira parte da terceira temporada ganha mais relevância por afastar a série dos comics em que se baseia, construindo uma narrativa própria e autónoma, livre de seguir o caminho da forma que lhe for mais conveniente. Os comics de Robert Kirkman, note-se, são formidáveis - mas uma série televisiva é um animal diferente, e por isso é bom que mantenha a sua autonomia. É certo que as semelhanças mantém-se - os espaços principais desta terceira temporada são a prisão, introduzida no terceiro álbum, e Woodbury, introduzida no quinto. A forma como as várias personagens se relacionam com estes espaços é que são diferentes - e apesar de algumas falhas, a fórmula seguida pela série tem sido bastante bem sucedida.
A temporada começa desde logo por mostrar o esforço que o grupo de Rick tem vindo a fazer para se manter vivo desde que a quinta de Hershel foi tomada pelos mortos-vivos - até introduzir a prisão, cenário muito aguardado para quem já estava familiarizado com os comics. Aqui, estes oito episódios foram muito bem sucedidos a mostrar o esforço que o grupo fez para conseguir tornar aquele espaço seguro - e elevado preço que pagou por isso. Os cenários da prisão estão mesmo muito bem conseguidos - escuros, apertados, claustrofóbicos. Alguns dos melhores momentos destes oito episódios passaram-se entre aquelas paredes. No entanto, é provável que Woodbury, a vila pós-apocalíptica mais creepy da banda desenhada, fosse ainda mais aguardada do que a prisão. Introduzida por Michonne e Andrea, cedo Woodbury se tornou num espaço algo desconfortável, devido sobretudo à personalidade do Governador - tão magnética como cruel. Está lá tudo como nos comics: o ringue, as barricadas, o laboratório, a sala secreta na casa do Governador. Falta a brutalidade do vilão - que decerto será mostrada em pleno nos oito episódios que faltam, sobretudo quando Michonne - com ou sem razão, o espectador que decida - lhe deu todos os motivos de que ele poderia precisar para entrar em modo batshit crazy.
No que diz respeito às personagens, há vários aspectos dignos de registo. O destaque, naturalmente, terá de ser dado ao Governador, o célebre vilão dos comics que na série televisiva é retratado com uma personalidade aparentemente mais vulnerável, mas ainda assim determinado, cruel e bastante instável quando perde o controlo. A sua ligação a Andrea torna-se interessante, sobretudo devido ao jogo de aparências que tem de manter após a captura de Glenn e Maggie - duas personagens que, não por acaso, estão cada vez mais interessantes e relevantes na série, com alguns momentos memoráveis nestes oito episódios. Rick e Lori estavam num ponto interessante quando Lori, de forma algo surpreendente, é retirada da jogada com uma morte prematura que teve três consequências positivas na série: 1) saiu uma personagem irritante (apesar de ela estar a melhorar substancialmente), 2) permitiu a Rick compreender o que realmente sentia por ela, transmitindo de forma muito eficaz a ideia de que, com o mundo naquele estado, não é sensato perder tempo a alimentar ressentimentos, e 3) fez Carl crescer e afirmar-se, até ao excelente papel que desempenha neste último episódio.
Daryl mantém-se como um dos mais sólidos personagens da série - resta saber como irá evoluir com o seu irmão, Merle, de novo em acção (após o desaparecimento logo no início da primeira temporada), e louco como sempre. Michonne permanece algo enigmática, e irá certamente precisar de mais alguns episódios para ganhar densidade. Como surpresa para os fãs dos comics, neste último episódio foi introduzido Tyreese, que chega à prisão e é recebido... por Carl.
Globalmente, The Walking Dead está ainda melhor nesta terceira temporada. As personagens estão mais maduras, e parecem estar a lidar de forma mais realista com o mundo apocalíptico que os rodeia. Algumas mortes causaram impacto (Lori, T-Dog), e outras, de temporadas anteriores, continuam a fazer falta (Dale). No resto, os cenários estão excelentes, os desempenhos estão melhores, os zombies continuam incríveis, e ficou montado um belo cliffhanger para Fevereiro. Que o Natal passe depressa. 8.9/10
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